E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse: “Não há mais o que ver”, sabia que não era assim.
O fim de uma viagem é apenas o começo de outra.
É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava.
É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles.
"A razão por que se abre um livro para ler é a mesma por que se olham as estrelas: querer compreender.
Mas não há nenhuma lei que obrigue as pessoas a levantar os olhos para o espaço ou a baixá-los para esse outro universo que é uma página escrita.
Não há gosto sem curiosidade nem curiosidade sem gosto.
Ler é uma necessidade que nasce da curiosidade e do gosto.
Se não tens gosto nem curiosidade, deixa os livros em paz, porque não os mereces. Sempre haverá alguém para abrir comovido um livro, para querer saber o que está por trás das aparências.
Cada livro é uma viagem para o outro lado."
- José Saramago, in: "Cadernos de Lanzarote" - 7 de maio de 1997.
"A única revolução realmente digna de tal nome seria a revolução da paz, aquela que transformaria o homem treinado para a guerra em homem educado para a paz porque pela paz haveria sido educado.
Essa, sim, seria a grande revolução mental, e portanto cultural, da Humanidade.
"O egoísmo pessoal, o comodismo, a falta de generosidade, as pequenas covardias do cotidiano, tudo isto contribui para essa perniciosa forma de cegueira mental que consiste em estar no mundo e não ver o mundo, ou só ver dele o que, em cada momento, for susceptível de servir os nossos interesses."