Quinta do Furão, Santana, Ilha da Madeira
"Levaria na mala a minha alegre infância que a pouco e pouco vai ficando mais distante a rua onde cresci sem ter grande importância mas que das ruas todas é a mais importante a minha avó mais nova que por mim gritava meu avô fumando cigarro após cigarro o negro alcatrão com giz tanto riscava rectângulos dos jogos que hoje não apago levaria a infância dentro de uma mala para um país longínquo, ou inóspito deserto podia ainda sorrir da infância que vivi pois que esta vida adulta é voz que não se cala um grito que sufoco e me mantém desperto a minha doce infância, a rua onde cresci" - Eugénio
Obrigada Eugénio pelo poema maravilhoso
publicado às 08:30
Parque de Santa Catarina, Funchal, Ilha da Madeira
"a vontade de escrever-lhe versos
lúbricos e quentes como o sol
é tigre cativo que ruge feroz
faço como Éolo prendendo os ventos
já lhe disse dos ombros que
se fosse o sol lhe deixaria
a claridade por tocá-la
e desmanchá-la a negra cabeleira
a postura correcta e senhoril
a altivez de semear-lhe tempestades
debaixo do vestido sempre belo
que a reveste de astro e diamante
sonho que a sua boca é um livro
de poemas cujos versos são escritos
no rodopiar de língua frenética
idioma dos amantes
já pensei atirar-me ao mar
pedir boleia aos golfinhos
e ajudarem num plano louco
de raptá-la e tê-la nos braços
já pensei em levar-lhe amoras
nos versos, e um por um
agarrá-los com os dedos
devorando-os num ápice de beijo
lembrei-me que podia
escrever-lhe um soneto e
o estampasse ao declamá-lo
no seu ventre liso
e descer ser peregrino
rumando a sul ao sol do desejo
à sombra que a noite faz
em fazer-me morcego
ou fosse baía azul, enseada
barco sem ânsias de entrar
entrando atracando
no molhe do orgasmo
ou avariasse a sua bússola
que se perdesse numa caverna
onde eu era rocha e se deitasse
abandonada em cima mim.
ou fosse fera e me atacasse
com as garras de fora,
cravando as mandíbulas
no pescoço e me devorasse
e o pescoço descaído
macio aparecem-me
em forma de sonho alucinado
presa de pálido vampiro
ou fosse cavalos de espuma
que a banhasse sempre que
mergulha no mar de seráfica
sereia encantada
mas tudo se esfuma no instante
em que decido cortar os pulsos
aos versos que pulsam malditos
do sangue preso nas veias"
- Eugénio
Grata Eugénio pelo maravilhoso poema!
publicado às 08:30
Madalena do Mar, Ilha da Madeira
"A Lua não lhe excede em beleza
não se reveste de poesia, não
atrela o sorriso de sol
antes lhe rouba a claridade
a lua não tem o contorno suave
dos seios dadores de vida
nem lhe iguala ao rosto
irradiando alegria
nem tem os braços firmes
nem a pose elegante,
nem o fogo redondo
terminal das costas,
nem os cabelos pretos
mais escuros que a noite
asa de corvo, nem as iguarias
dos olhos serenos.
que me trave o ímpeto
do peito verter-me em versos
que se fossem de água
me afogaria neles
mas o sonho envolve-me
numa ilha perdida
num mar inquieto e
revolto em espuma
como o sorriso de açucar
que do beijo em fogo
saberia nos lábios doces
a fulvo caramelo
bastaria um estalar de
dedos seu para cessar
o meu voo poético
de albatroz até si"
- Eugénio
Um belo poema que recebi do Eugénio que não resisti em partilhar aqui no meu blog.
Obrigada Eugénio !
Adorei este poema!
publicado às 08:30
Jardins da Quinta do Palheiro, Funchal
"No viver devagar é que está o ganho caminhar na placidez de um rio que passa escrever um verso deixá-lo na boca em beijo olhar as coisas como o animal feroz em paz. Dançar alegremente fora do poema no rodopio louco com mãos entrelaçadas desfocar a imagem à volta num momento esquecer a opressiva nitidez do mundo. Não esquecer os fascinantes astros não dançam no céu mas coruscam pois sonham desistir do plasma inútil para que pudessem amar por um dia ser frágil como os Homens."
- Eugénio
Obrigada Eugénio por me permitir publicar este maravilhoso poema.
publicado às 08:30
Miradouro do Curral dos Romeiros, Ilha da Madeira
"Se de vento veloz eu fosse feito, Ou de água transparente fosse mar Pudesse ir a voar pelo ar perfeito E pudesse na ilha verde aterrar, Fosse navio com avaria caravela na rainha da Beleza a Ilha atracar E conseguisse vê-la, ao menos, vê-la Meu coração talvez pudesse sossegar Vagueando pelos montes verdejantes Miradouros se possível contemplar E de uma flor das flores luxuriantes Deixar-lhe um beijo que soubesse a mar, Não ser de água, de vento, de ar eu não Só poderei ir à Ilha de avião."
- Eugénio
Muito Obrigada, Eugénio, pelo maravilhoso poema.
publicado às 08:30