Poemas de Eugénio
Parque de Santa Catarina, Funchal, Ilha da Madeira
"a vontade de escrever-lhe versos
lúbricos e quentes como o sol
é tigre cativo que ruge feroz
faço como Éolo prendendo os ventos
já lhe disse dos ombros que
se fosse o sol lhe deixaria
a claridade por tocá-la
e desmanchá-la a negra cabeleira
a postura correcta e senhoril
a altivez de semear-lhe tempestades
debaixo do vestido sempre belo
que a reveste de astro e diamante
sonho que a sua boca é um livro
de poemas cujos versos são escritos
no rodopiar de língua frenética
idioma dos amantes
já pensei atirar-me ao mar
pedir boleia aos golfinhos
e ajudarem num plano louco
de raptá-la e tê-la nos braços
já pensei em levar-lhe amoras
nos versos, e um por um
agarrá-los com os dedos
devorando-os num ápice de beijo
lembrei-me que podia
escrever-lhe um soneto e
o estampasse ao declamá-lo
no seu ventre liso
e descer ser peregrino
rumando a sul ao sol do desejo
à sombra que a noite faz
em fazer-me morcego
ou fosse baía azul, enseada
barco sem ânsias de entrar
entrando atracando
no molhe do orgasmo
ou avariasse a sua bússola
que se perdesse numa caverna
onde eu era rocha e se deitasse
abandonada em cima mim.
ou fosse fera e me atacasse
com as garras de fora,
cravando as mandíbulas
no pescoço e me devorasse
e o pescoço descaído
macio aparecem-me
em forma de sonho alucinado
presa de pálido vampiro
ou fosse cavalos de espuma
que a banhasse sempre que
mergulha no mar de seráfica
sereia encantada
mas tudo se esfuma no instante
em que decido cortar os pulsos
aos versos que pulsam malditos
do sangue preso nas veias"
- Eugénio
Grata Eugénio pelo maravilhoso poema!