Desejos vãos
Quinta do Furão, Santana, Ilha da Madeira
"Eu queria ser o mar de altivo porte
Que ri e canta a vestidão imensa
Eu queria ser a pedra que não pensa
A pedra do caminho rude e forte.
Que ri e canta a vestidão imensa
Eu queria ser a pedra que não pensa
A pedra do caminho rude e forte.
Eu queria ser o sol, a luz intensa
O bem do que é humilde e não tem sorte
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até da morte.
O bem do que é humilde e não tem sorte
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até da morte.
Mas o mar também chora de tristeza
As árvores também como quem reza
Erguem aos céus, os braços como um crente.
As árvores também como quem reza
Erguem aos céus, os braços como um crente.
E o céu altivo e forte ao fim de um dia
Tem lágrimas de sangue na agonia
E as pedras essas, pisas toda a gente
Pisas toda a gente.
Tem lágrimas de sangue na agonia
E as pedras essas, pisas toda a gente
Pisas toda a gente.
Mas o mar também chora de tristeza
As árvores também como quem reza
Erguem aos céus, os braços como um crente.
As árvores também como quem reza
Erguem aos céus, os braços como um crente.
E o céu altivo e forte ao fim de um dia
Tem lágrimas de sangue na agonia
E as pedras essas, pisas toda a gente
Pisas toda gente."
Tem lágrimas de sangue na agonia
E as pedras essas, pisas toda a gente
Pisas toda gente."
- Florbela Espanca